"Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar.
Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica.
Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses:
Quem, de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados?
E que seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender? "
Bertolt Brecht
Como podemos ver, Bertold Brecht já nos tinha explicado, há muitos anos e como só ele sabia, a grande dificuldade que é governar. Agora foi a vez de Cavaco Silva dar o seu contributo, explicando a um miúdo, durante uma visita a uma escola, que talvez ainda mais acima da dificuldade de governar esteja a enorme dificuldade... de coordenar. Disse ele, depois de uns exemplos tirados do futebol, em que jogam só onze, por contraste com os dez milhões de portugueses, que «é preciso milhares de pessoas a coordenar, uns são Presidentes da República, outros são membros do Governo, outros são presidente de Câmara», acrescentando ainda que existe como que «uma mão invisível a fazer a coordenação».
Afinal o homem é muito bom! Acho que raramente terei ouvido uma definição tão boa de capitalismo.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
A descoberta de Narciso
“Porque vês tu, pois o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? Ou como dizes a teu irmão?: deixa-me tirar-te do teu olho o argueiro, quando tens no teu uma trave? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás como hás-de tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
(Mateus, VII: 3-5)
A coisa até passava despercebida. Era mais uma entrevista publicada num jornal de referência (o Público, no caso). A Associação porém atenta, resolveu alertar os sócios para o interesse dum “artigo” de Narciso no Público. E vai-se a ver e, o “artigo” anunciado era uma simples entrevista…
E porquê? Ora, porque Narciso Miranda acabava de fazer uma descoberta: “O PS tem um chefe, não um líder”. E concluía em jeito de pitonisa: “o PS corre o risco de passar dez anos na oposição”.
Exactamente o que Narciso foi quando podia ser líder: um chefe. Ainda por cima, um chefe que ignorou os avisos dos seus mais sagazes pares, insistindo cegamente na denúncia do despesismo (que o havia), dos gastos sumptuosos (que os há), da arrogância (que prevalece), da ostentação (que não abranda).
E o que fez o líder, perdão o chefe Narciso para atingir o objectivo partilhado por muitos matosinhenses? Como líder – que, na circunstância o não foi - teria fundamentadas e sensatas razões para as opções tomadas na fase terminal da campanha, para o beco sem saída em que se metia.
E se tais razões não eram claras competia-lhe - como líder - explicá-las. Não o fez!
Um chefe não precisa disso – terá pensado. Um chefe determina e manda publicar, à boa maneira militar.
Foi o que Narciso fez! Não conseguiu convencer, nem seguidores nem eleitores. O colapso eleitoral – uma verdadeira hecatombe – aí está para dissipar quaisquer dúvidas. O argumento da trapalhada das escutas a nível nacional é um argumento de mau perdedor.
Quanto ao “chefe” Sócrates, alapado no lugar de primeiro ministro, alapa-se igualmente no lugar de líder, e coordenador de toda a Comissão Permanente do PS, de modo a jamais largar o que é dele. Está visto que qualquer socialista que se atravesse no seu caminho acaba a pedir a Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe evite maus pensamentos e acções. E se o pede a Nosso Senhor é porque um encontro com ele transforma um ateu num crente: não no socialismo, mas na necessidade de não o ser, ou pelo menos de não o parecer.
Mas se virmos as coisas pelo lado positivo, a acumulação tem ainda a vantagem da poupança. Em vez de pagarmos um primeiro ministro e um líder do PS, pagamos um só. Podemos convidar os dois pelo preço de um almoço. Nesse sentido, creio que poderia ainda acumular mais: dava um excelente Procurador Geral da República, um excelente Presidente do Supremo, e ainda do Tribunal Constitucional, tudo concentrado.
Ocorre-me também que dava – em acumulação já se vê – um magnífico líder do PSD e, nem sei mesmo se um óptimo seleccionador nacional, pois tal como o Queirós também ele, há pouco tempo, via tudo cor de rosa.
Além do mais, se acumulasse também o PSD, não havia problemas com necessários acordos de regime.
Porque, mal os deixamos – pum! – um escândalo; se abrandamos a vigilância – pau! – uma conspiração; se não os enquadramos devidamente – pás! – uma intervenção do Estado onde não deve; e em casos de laxismo – zás! – uma revolução ou, até, o que é pior, uma nacionalização.
Será que Narciso alguma vez pensou nisto?
(Mateus, VII: 3-5)
A coisa até passava despercebida. Era mais uma entrevista publicada num jornal de referência (o Público, no caso). A Associação porém atenta, resolveu alertar os sócios para o interesse dum “artigo” de Narciso no Público. E vai-se a ver e, o “artigo” anunciado era uma simples entrevista…
E porquê? Ora, porque Narciso Miranda acabava de fazer uma descoberta: “O PS tem um chefe, não um líder”. E concluía em jeito de pitonisa: “o PS corre o risco de passar dez anos na oposição”.
Exactamente o que Narciso foi quando podia ser líder: um chefe. Ainda por cima, um chefe que ignorou os avisos dos seus mais sagazes pares, insistindo cegamente na denúncia do despesismo (que o havia), dos gastos sumptuosos (que os há), da arrogância (que prevalece), da ostentação (que não abranda).
E o que fez o líder, perdão o chefe Narciso para atingir o objectivo partilhado por muitos matosinhenses? Como líder – que, na circunstância o não foi - teria fundamentadas e sensatas razões para as opções tomadas na fase terminal da campanha, para o beco sem saída em que se metia.
E se tais razões não eram claras competia-lhe - como líder - explicá-las. Não o fez!
Um chefe não precisa disso – terá pensado. Um chefe determina e manda publicar, à boa maneira militar.
Foi o que Narciso fez! Não conseguiu convencer, nem seguidores nem eleitores. O colapso eleitoral – uma verdadeira hecatombe – aí está para dissipar quaisquer dúvidas. O argumento da trapalhada das escutas a nível nacional é um argumento de mau perdedor.
Quanto ao “chefe” Sócrates, alapado no lugar de primeiro ministro, alapa-se igualmente no lugar de líder, e coordenador de toda a Comissão Permanente do PS, de modo a jamais largar o que é dele. Está visto que qualquer socialista que se atravesse no seu caminho acaba a pedir a Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe evite maus pensamentos e acções. E se o pede a Nosso Senhor é porque um encontro com ele transforma um ateu num crente: não no socialismo, mas na necessidade de não o ser, ou pelo menos de não o parecer.
Mas se virmos as coisas pelo lado positivo, a acumulação tem ainda a vantagem da poupança. Em vez de pagarmos um primeiro ministro e um líder do PS, pagamos um só. Podemos convidar os dois pelo preço de um almoço. Nesse sentido, creio que poderia ainda acumular mais: dava um excelente Procurador Geral da República, um excelente Presidente do Supremo, e ainda do Tribunal Constitucional, tudo concentrado.
Ocorre-me também que dava – em acumulação já se vê – um magnífico líder do PSD e, nem sei mesmo se um óptimo seleccionador nacional, pois tal como o Queirós também ele, há pouco tempo, via tudo cor de rosa.
Além do mais, se acumulasse também o PSD, não havia problemas com necessários acordos de regime.
Porque, mal os deixamos – pum! – um escândalo; se abrandamos a vigilância – pau! – uma conspiração; se não os enquadramos devidamente – pás! – uma intervenção do Estado onde não deve; e em casos de laxismo – zás! – uma revolução ou, até, o que é pior, uma nacionalização.
Será que Narciso alguma vez pensou nisto?
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