segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Já chegamos à Madeira?

Nota prévia:
É inquestionável a solidariedade devida ao povo madeirense, afectado por esta catástrofe. Que foi uma catástrofe natural já o sabemos. Só que, a não ter havido ao longo dos anos, o mau ordenamento territorial de que agora se fala, talvez pudesse ter sido evitada. Ou, no mínimo minimizada.
Erros urbanísticos, desvio do leito natural das ribeiras estarão, entre outros, na origem de tamanho colapso das estruturas. Técnicos irão pronunciar-se, inquéritos decorrerão ou não, mas, pela amostra, os verdadeiros culpados sairão ilesos do processo. De resto, o próprio chefe do governo regional deu já disso sinal seguro e certo.
Cuidado - disse ele – nada de dramatizar a situação, porque a economia da ilha depende do turismo. E o turismo - acrescenta cauteloso - pode ressentir-se com notícias e imagens da realidade. Oculte-se pois a verdade, sentencia ele.
Como se fosse possível as televisões mostrarem aquelas imagens e, ao mesmo tempo os textos desmentirem o que se mostra!...
Negar as evidências: eis, o que Alberto João sempre por lá fez; agora quer que, nesta atitude, o sigamos “desdramatizando”. Feitios!...
Dezenas perderam a vida, centenas ficaram feridas, milhares perderam os haveres. Oculte-se, para bem da economia – e quem manda é o chefe!
É justo – todos estamos de acordo - que contribuamos para amenizar a dor que se abateu sobre os nossos compatriotas insulares; e mesmo que não fossem compatriotas, o sentimento seria o mesmo: o Haiti, por exemplo, não nos é nada (em termos de parentesco, entenda-se) e sentimos igualmente a tragédia.
Acontece que a ideia que nós, os “cubanos”, temos da Madeira, por culpa do seu chefe máximo, coloca algumas reservas naturais aos impulsos da solidariedade que lhes devemos – inquestionável, repito. E porquê?
Por isto:
A principal questão que nos liga à Madeira é o facto de a Madeira não se querer desligar de nós. Se os dirigentes madeirenses fossem homens consequentes (o que ficava bem e até rimava), pediriam a independência deste rectângulo que tanto mal lhes tem feito. Infelizmente, é outro o entendimento do Dr. Jardim e de seus sequazes, que vão dizendo mal da Lusa Pátria, mas a ela andam agarrados como a lapa à rocha.
Expressões próprias do desagrado português em relação àquela ilha estão no nosso léxico como em «já chegamos à Madeira?». Não há que se saiba nada de parecido com os Açores, ou com Cabo Verde ou mesmo com Timor.
Creio mesmo que um referendo sobre a independência da Madeira ganharia largamente em todo o País, à excepção da própria Madeira que pretende ficar amarrada a esta Pátria que a explora e a trata aos pontapés.
Não podemos libertar a Madeira à força, contra a vontade deles.
Mas podemos libertar-nos a nós.
Se um dia nos chegasse a notícia de que o Jardim se demitiu, tínhamos tanto a ver com isso como com as nuvens do ano passado…

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Tempo de outrora e os tempos de hoje…

Antigamente, as estações do ano sucediam-se com a regularidade assinalada pelos astrónomos. Os dias de Primavera eram temperados, alegres, perfumados, encantadores. Os de Verão eram quentes, risonhos, brilhantes e ensolarados. Os do Outono mornos, dourados, cheirosos e deslumbrantes. Os do Inverno frios, tristes, chuvosos e cinzentos.
A gente ditosa, que então vivia, podia confiar-se nos entendidos em rotação dos planetas; e os sábios podiam sem receio responsabilizar-se pela pontualidade das estações.
A gente fiava-se dos sábios, os sábios da ciência, e a ciência dos factos repetidos. Depois, porém, daquela época, desconcertaram-se os sistemas das regiões altas. O “progresso” encarregou-se de influir na substância dos sólidos e fluídos componentes do maquinismo celeste, alterando-lhes o modo de actuarem sobre a terra.
É uma teoria universalmente aceite, sendo que hoje não falta quem seja capaz de apresentar razões científicas que justifiquem tal desconcerto planetário.
E se houvesse versões contraditórias - tão científicas quanto as primeiras - não seria lógico que, para serem publicadas, fosse exigida a apresentação de “casos concretos”. Publicavam-se e… pronto!
Donde se conclui que, a exigência de provas “concretas” para que opiniões diversificadas sobre um mesmo assunto sejam publicadas varia de acordo com o tema em apreço…
Mas, se sobre o tempo que faz, a questão das divergências não seria tempestuosa, o mesmo não se diria de algumas crónicas escritas, como, por exemplo, aquela do Mário Crespo recentemente censurada pelo “Diário de Notícias” primo do JN.
(Apresso-me a esclarecer que não aprecio a forma como um jornalista de direita aproveita todos os centímetros que consegue na imprensa e cada minuto de tempo de antena para debitar um ódio vesgo por tudo que cheire a esquerda, ainda que “esquerda”, para ele, seja este governo PS!…)
E vou mais longe: não gosto de praticamente nada do que Mário Crespo escreve, não simpatizo praticamente com nada do que diz e, não sinto entusiasmo por praticamente nada do que apresenta na Televisão -
por muito que queiram convencer-nos de que se trata de “jornalismo de excelência”.
Se cá a trago é por ser inquietante - e era aqui que queria chegar – a deriva autoritária que, um pouco por todo lado, vai eliminando crónicas “incómodas” não pelos argumentos, mas pelo puro, duro e simples silenciamento!
Porquê? Ora porque,
“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...”
(Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Crónica de recurso. Felizmente, há blogues…

Era do Mar de Matosinhos que António Nobre falava quando, no seu livro “Despedidas” escrevia:
“Saí um dia a Barra à procura de Glória, entre soluços e orações, cuja memória me faz tremer. Foi por uma tarde de Outono. Que linda: mar espreguiçava-se com sono.
Por essa Barra saem cheios de pecados bandidos com seus crimes e mais os degredados; traidores à Pátria e ao Rei, infelizes e ladrões, por lá saiu também uma noite Camões…”.


O Ar de Mar inspirava o poeta do Só, “Na Praia lá da Boa Nova…”
E os poetas “”não estivessem do meu lado, então não havia fado…”
Nem cronistas como eu!

“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada”.
(Maiakovski, poeta Russo)

“Primeiro levaram os negros.
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso.
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso.
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados.
Mas como tenho meu emprego, também não me importei.
Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”.
(Bertold Brecht (1898-1956).


”Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...”
(Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas).

Só cessarão estas e outras injustiças quando combatermos as perseguições logo que elas se iniciem.
Vejam lá se há disto em Matosinhos…

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ah, se eles pudessem!…

E são nossos irmãos, segundo a Bíblia!
Só não podem - e sabe Deus com que pena! - é “levar-nos” como dantes fazia a Pide.
O Partido Socialista, perdão, os responsáveis locais do partido socialista - um partido fundado para conquistar a liberdade de opinião, de expressão, de reunião e de intervenção - têm na perseguição, o seu objectivo primeiro.
Soluções - ou vá lá, ideias - para combater o desemprego, a fome e a insegurança instalada em Matosinhos, nem uma! E foi com esta perspectiva que conquistaram o eleitorado…
Acusações, suspensões, expulsões – vingança, para ser objectivo - eis o resultado imediato dos resultados eleitorais de Outubro.
Primeiro - ou depois, tanto faz - as pseudo “notas de culpa” aos militantes que ousaram desalinhar da rota oficial do partido.
A seguir - ou antes, tanto faz - a perseguição individual, que já nem sequer é circunscrita ao local de trabalho. Coscuvilham se quedam em casa, se saem à rua, se vão a jantares, se frequentam estádios, se…
Todos os palcos servem para humilhar, perseguir, ameaçar…
E qual foi o delito destes “criminosos”?
Eu explico.
Entenderam que tinha chegado a hora de Matosinhos mudar de rumo!
Ora, como não mudou e, como não cessou a causa que lhe dava origem – e, pelos vistos até se acentuou - as consequências aí estão.
Se está em causa a democracia?
Por enquanto talvez não: afinal, são apenas aprendizes, ou para usar uma linguagem extremista – mas certeira – meros “criados dos exploradores do povo” de nula influência no processo de regressão em curso. Mas, é assim que “eles” começam…
Razões para preocupações? Mais que muitas!
Meditem bem nisto que Bertold Brecht (1898-1956) escreveu:

"Primeiro levaram os negros.
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso.
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso.
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados.
Mas como tenho meu emprego, também não me importei.
Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém .
Ninguém se importa comigo”.

Está visto! O PS de Matosinhos precisa de uma barrela.
Para que a Justiça, o bom senso e o respeito pelas opiniões alheias – perdida que foi, desta feita, a retoma do rumo – sejam recuperados.