segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Carta aberta aos eleitos independentes

Confesso que tive alguma dificuldade em aceitar a existência de “eleitos” neste reino.
“Eleitos” – supunha - eram os bons, os predestinados, que hão-de sentar-se à direita de Deus Pai - segundo a Bíblia - que não identifica os que vão sentar-se à esquerda; e não serão os maus, os corruptos, que vão esturricar, metidos pelo maligno num caldeirão de azeite a ferver, quem sabe se fornecido pelos supermercados da Sonae…
A custo, lá me fui habituando à ideia de que, afinal, também entre nós há “eleitos”. Eleitos por um chefe, que viu donaires e encantos onde, em boa verdade, o povo – juiz inapelável – não viu.
Já sei que 27.083 eleitores também viram – um número que não pode ser ignorado. Há é outros números a não ignorar.
O método de Hondt e alguns acordos inesperados conduziram a nossa Força à subalternidade. E pensar que tínhamos tudo para vencer a arrogância e a prepotência instaladas…
Mas, com que armas? Se ninguém conhecia uma ideia dos “eleitos”, um plano, um projecto, uma solução, uma só linha escrita, um palpite que fosse sobre uma qualquer matéria!
Como podia o povo pensante votar, em abstracto, numa causa colectiva cuja base, que se exigia numerosa, tinha só um membro: o seu líder natural?
Alguém viu algum “eleito” defender, firme e convictamente, razões sérias e precisas que justificassem a “mudança de rumo” proclamada? Algo mais que a leitura débil, insípida e mortiça de discursos repetitivos e monocórdicos, bajuladores e interesseiros, vazios e desajustados, fracos e imprecisos.
A constatação é simples: basta pensar-se no que diz o povo sobre os políticos – falam muito e não fazem nada. Só que estes, além de nada terem dito, nada fizeram – ao contrário dos outros que, também nada tendo feito, tudo disseram. Deste modo simples se soluciona a contradição.
De facto, faz todo o sentido pensar-se que houve, durante a campanha, cidadãos a apontar para os “eleitos” mudos e silenciosos e a dizer, ou vá lá, a pensar:
«Olha, lá vão eles; nem parecem políticos! Não dizem nada; mas, o certo é que depois também não fazem nada!»
O que vão fazer agora os nossos, no terreno deles?
Imaginemos um debate em que os intervenientes se olhem fixamente – tipo jogo do “sério” – e que perca, não o primeiro a esboçar um sorriso, mas o primeiro a dizer uma palavra, a emitir um som. Exagero? Exagero, sim senhor!
(Falo dos “eleitos” e não do seu chefe que não tem, propriamente, no silêncio a característica mais marcante…)
Chegaríamos por esta via - a do silêncio - à elevação máxima do debate. Àquela que, no dizer dos filósofos, é indizível, razão pela qual nada mais haverá senão isso mesmo: o absoluto silêncio - a única ferramenta que, para o povo, os eleitos (sem aspas) possuem.
Ouvir, calar e amochar - muito pouco na actual correlação de forças.
Mas, é o que há! E, quem dá o que tem…
Cumprimenta-vos, silenciosamente, este vosso aliado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Carta aberta ao chefe local do PS

Desculpa não te tratar pelo nome, mas nem sei como te chamas.
Podes não acreditar, mas nunca vi uma fotografia tua - o que nesta era digital diz muito da tua pouca importância política.
Deixa-me contar-te um caso semelhante, que vivi há uns tempos.
Pretendia escrever, para um jornal da capital uma crónica a visar uma figura que despontava na cena política nacional: o ministro Mário Lino.
Como nunca o vira - e o estilo a imprimir impunha que o tivesse visto – quis saber com quem era o Lino parecido.
«Olha, é um tipo com cara de Brejnev de trazer por casa…».
Ainda pensei que Sócrates podia, pelo menos, ter escolhido para ministro um soviético com uma cara menos feia, vá lá o Andropov ou assim. Mas, não! Era mesmo o Lino, no início duma fulgurante carreira de ministro.
Para conhecer a tua fisionomia procurei, também, quem te conhecesse, mas não encontrei quem estivesse disposto a gastar contigo um segundo que fosse.
Se posso, mesmo assim, ir directo ao assunto? Posso, e é a mesma coisa.
Consta que no PS não consegues reunir consenso para concretizar a monda que te encomendaram. Nem consenso no partido, nem apoio fora dele!
Se fosses perspicaz, tinhas mandado às malvas os tipos que te encomendaram aquelas inúteis notificações aos militantes socialistas. E nem nisto mostraste competência, já que o principal alvo da tua sanha persecutória – Narciso Miranda – nem sequer foi notificado!
Se fosses inteligente tinhas percebido logo, que estavas perante uma evidência tautológica. (Se não souberes o que é uma tautologia, podes continuar a ler isto, mas dou-te uma ajuda: consiste em dizer o mesmo de forma diferente).
Vem o Sócrates e diz que o PS é democrático e tolerante. O que é verdade.
Vêm os teus notificados e dizem que o PS é antidemocrático e intolerante. O que é verdade.
Vens tu e os teus notificadores, e dizem que os independentes moveram forte afronta ao partido. O que é verdade.
Vêm os independentes, e dizem que só divergiram e não afrontaram o partido. O que é verdade.
Vêm os teus dirigentes, e dizem que o PS é de esquerda. O que é verdade.
Vêm os dirigentes do BE e do PCP, e dizem que o PS é de direita. O que é verdade.
Eis a evidência tautológica: se um diz a verdade, e está em contradição com o outro, o outro não pode estar também a dizer a verdade.
Exactamente como não entendeste!
Se pensas que, com essa das expulsões, Narciso e seus pares andam de cabeça baixa, estás enganado. Trazem-na bem levantada (a cabeça, claro). Resta-te recolher as notificações que enviaste, ajoelhar e pedir ao Senhor que te ilumine no futuro…se entretanto não te destituírem! Digo-te mais: se conseguires sair disto sem queimar as barbas, resolves a quadratura do círculo - coisa que nem o doutor Pacheco Pereira conseguiu.
Aceita o cumprimento dum cidadão não envolvido (até agora) em negociatas e cambalachos. Nem em escutas!

Escutas em Belém

Eis a prova que faltava.
Afinal há mesmo escutas em Belém!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Carta aberta a Guilherme Aguiar

Não se pode dizer que o seu futuro político, apesar da mudança, caríssimo Guilherme Aguiar seja negro, porque de certa forma é luminoso, mas é um mau futuro.
O senhor é uma figura conhecida em todo o país – e não só pela malta da bola - apesar de Gaia estar longe dos palcos onde se desenrolam as convenções básicas da política, daquelas em que Lisboa é mestra, o Terreiro do Paço é doutorado e qualquer ministro é Reitor!
Não espanta pois, que um amigo meu, que mora a Sul, e só o conhece da bola, pela televisão – tal como eu, aliás, que moro a Norte - mal o viu ganhar na secretaria o que perdeu no terreno, atirou a contar:
- «Não achas estranho que o Aguiar fique com o pelouro do Desporto, tendo ele concorrido pelo PSD?»
- «Não é por ser do PSD» – respondi – «é porque o homem é um pina moura de trabalho.» E rimo-nos ambos do dito. E prosseguiu:
«Não vês que ele procurou a mudança apenas para se conservar no poder?
Sabes que as espécies, mesmo segundo os darwinistas, apenas mudam para se conservarem. Ou seja, o que determina a mudança – seja do camaleão, seja a da crisálida em borboleta, seja a da Zita Seabra ser mais à direita, seja a do Mário Soares ser mais à esquerda – é a conservação das espécies. Claro que já entendeste que isto é um paradoxo.
A gente muda porque quer conservar!
Este Guilherme mudou para Matosinhos porque quer conservar-se no poder.
Não vale a pena disfarçar, meu caro: no fundo, no fundo, ninguém quer mudar se estiver bem. Citando uma velha máxima atribuída ao almirante Henrique Tenreiro, segundo a qual “mais vale ter saúde e ser rico, do que ser pobre e doente”, ninguém rico, bonito e saudável deseja uma mudança. Da mesma forma que ninguém feio, pobre e doente quer ficar na mesma. A questão da mudança depende pois do ponto de partida.»
Claro que esta mudança não pode ser comparada à daqueles políticos que vão para empresas com as quais tinham feito contratos enquanto ministros. Trata-se dum esquema muito em voga, cujos contornos a Justiça persiste em ignorar e que, com leves variantes, funciona assim:
A empresa A precisa de convencer o Estado a colocá-la no consórcio B, de forma a financiar-se para o projecto C, o qual serve, aliás, de alavancagem para iniciar a obra D, ganhar a obra E, e concluir a obra F.
Ora, se a empresa A conseguir integrar nos seus quadros um antigo ministro, tem a coisa facilitada, deixemo-nos cá de coisas!
Tenho para mim, que o seu propósito de mudança não encaixa neste exemplo.
O amigo Guilherme vem para cá com o objectivo de nos ajudar, porque acha – e muito bem – que Matosinhos merece melhor!
Melhor do que ele próprio? Bem, a isso é que não sei responder!
Mas esta era a mensagem de fundo; e 15. 084 eleitores acreditaram!
Avance, pois, ó Aguiar; tem o nosso respeito

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Carta aberta a Guilherme Pinto

Escrevo-lhe para lhe dizer que depois de analisados os resultados da sua reeleição como presidente podem, enfim, retirar-se algumas conclusões.
Antes, porém, deixe-me contar-lhe isto, em jeito de introdução.
Quando eu era novo, havia na minha terra – pequena aldeia lá do Minho – um barbeiro. Dizer um barbeiro, era dizer um espelho e um banco, uma tesoura e um homem, razão pela qual ainda por lá se diz «não tarda uma loja de barbeiro», para se dizer que é coisa rápida. Esse barbeiro dizia mal de toda a gente. Que este era um palerma, que o outro era tolo, que o seguinte era ruim, que o próximo era mau e, que, o se seguia era um palonço do piorio.
Ao fim da tarde, quando não quedava senão ele na loja, o barbeiro mirava-se ao espelho e apontando para a sua imagem reflexa, dizia: «E tu és o pior de todos! Tu também me saíste um grande filho da mãe, sempre disposto a dizer mal deste e daquele, sem piedade, nem compaixão».
O barbeiro foi-se, e fiquei com os mesmos tiques, fosse por influência do homem, fosse por influência do lugar (é perto de Barroselas…).
E quero dizer-lhe que as razões dos seus 42,31% - 37.239 de votos – podem muito bem ter sido encontradas. Pelo menos, essa é a convicção duma vasta equipa criada para o efeito, logo após o 11 de Outubro:

1) Cerca de 25.000 membros do PS referiram que tinham votado em si porque o chefe local deles assim tinha mandado. Interrogados sobre esse procedimento referiram que era o procedimento normal, uma vez que os chefes locais lhes tinham dito que esse era o procedimento normal.
2) Cerca de 10.000 revelaram que votaram em si porque costumam votar no tipo que vai vencer. Interrogados sobre a razão de tal costume, disseram que a fundamentam num dado extremamente relevante: nunca perder umas eleições. Estes militantes já tinham votado Narciso, Soares, Cavaco, Guterres, Barroso e Sócrates, sendo que dois deles tinham votado Santana Lopes. Quando lhes perguntaram como conseguiram votar nos líderes do PSD, metade disse que costumava mudar de partido logo que percebia que o partido onde estava ia perder as eleições e, a outra metade – a facção mais conservadora – revelou que é militante dos dois partidos ao mesmo tempo.
3) Cerca de 2.238 disseram ter votado no PS, uma vez que a sua ideia fundamental era que tudo ficasse na mesma. Cem deles confessaram ter votado por engano, pensando tratar-se das eleições do Leixões e da reeleição do senhor Carlos Oliveira.
4) Um militante deve ter votado mais ou menos convictamente em si.
Provavelmente o senhor, ou seja o próprio.
E aqui tem o estudo, em primeira mão, do seu eleitorado.
Aceite um aperto de mão, devidamente higienizado e desinfectado, por causa da gripe.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Carta aberta a Narciso

Tenho andado a pensar nos propósitos de alguns dirigentes regionais do PS - o partido que, sem ti jamais teria sido o que é – e começo a ficar preocupado.
Vim até aqui ao Minho profundo, que como sabes fica perto de Viana, e resolvi reflectir sobre a coisa. Ou seja, pensar profundamente no modelo judicial socialista, o qual, parece-me, não difere muito do modelo judicial português.
O modelo judicial português (o socialista parece-me igual) diferencia-se dos restantes – e tu sabe-lo bem! – pela originalidade no que toca aos alvos de penas e condenações.
Por exemplo (e esta devo-a a um bom amigo que estudou bem o caso, a partir da posição privilegiada no Governo): se um banqueiro delapida os fundos do banco, prejudicando os accionistas, na maioria dos modelos judiciais, vai preso. Pois em Portugal, terra de brandos costumes e de ainda mais brandos julgamentos, vai preso o gerente da agência bancária, que a seu pedido abriu conta num «off-shore»!
Outro exemplo: se um ministro despacha (e despacha-se) que se farta, pode em qualquer modelo judicial comum ser chamado a contas no Parlamento, em sede de Comissão de Inquérito, ou mesmo na Procuradoria. No nosso modelo não se incomoda o ministro; parte-se do princípio que a culpa – a haver, coisa que raramente acontece - é do contínuo que deixou acumular os despachos e do chefe de Gabinete que já faleceu, ou, já emigrou.
Esta é a lógica justiceira dos dirigentes que agora querem julgar-te.
Toda a gente sabe que não podes comparar-te a eles. És um homem de carácter, de princípios, de causas e de valores. Um socialista a sério!
Poderão, os que agora se arvoram em teus juízes, proclamar o mesmo?
Comparado com o teu, que passado têm eles, para que os acreditemos no presente, e lhes confiemos o futuro?
Toda agente sabe que a tua corrida por fora do PS se ficou a dever à firme determinação de recolocares Matosinhos na calha do progresso e desenvolvimento. Corrigir a rota, ou retomar o rumo, como tantas vezes o disseste. Porque foram eles que se desviaram, e não tu!
Tiveste a lucidez de denunciar, a tempo, o desgoverno municipal.
Tiveste a coragem de enfrentar uma máquina partidária que, desta vez, nos venceu.
Contigo estão muitos dos que nas autárquicas votaram PS.
Sobre este “engano” eleitoral, ainda um dia hei-de dedicar-te um livro!...
Lembra-te das palavras oportunas e certeiras do Presidente da República na tomada de posse do novo Governo, e que podes muito bem interiorizar:
“Se os cargos públicos são efémeros”… “o carácter dos homens é duradouro…”, pelo que “não são os cargos que definem a nossa personalidade, mas aquilo que somos em tudo aquilo que fazemos…”.
E se pensas que, depois de tanto esforço, o reconhecimento não existiu, pensa na resposta daquela criança à ministra Lurdes Rodrigues, depois das obras e dos “Magalhães” (Público 15/10/2009):
“E o que é que gostas mais nesta escola nova?” – perguntou a ministra.
“Da professora”- respondeu o rapaz!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Benfica é outra coisa! Estes são os números da SAD

É oficial!
35 milhões de euros de prejuízo (“resultados negativos”, segundo alguma imprensa…).
12 milhões negativos em “capitais próprios”.
Passou de 125 milhões, para 173 milhões o passivo (aumento de 53 milhões de euros)!
Os números são outros, evidentemente. Mas, o tipo de gestão do Benfica, não desalinha do do Governo. Podia dizer-se: Vieira e Sócrates, a mesma luta!...

A avaliar pela gestão do País, Sócrates não faria melhor no Benfica!
A avaliar pela gestão do Benfica, Vieira não faria melhor no País!
A política de Vieira levou o Benfica ao maior endividamento de todos os tempos; a política de Sócrates levou Portugal ao maior endividamento público de sempre!
A política de Vieira levou o Benfica aos piores resultados de todos os tempos; a política de Sócrates leva Portugal ao maior défice dos últimos anos!
A política de Vieira levou o Benfica a perder um número infindo de campeonatos e títulos; a política de Sócrates levou Portugal a perder 100.000 empregos; política de Vieira leva o Benfica à falência plena; a política de Sócrates coloca Portugal na quase falência!