É verdade.
A selecção é a nossa esperança, a nossa vida, a nossa possível glória. Imaginem só se vivêssemos num país onde o mais interessante fosse o tango dançado por Sócrates e Passos de Coelho. Ou mesmo a decisão do Presidente da República sobre o casamento homossexual!
As televisões têm sido de grande ajuda. Já conseguimos saber quais são os gostos do Nani, onde o Coentrão compra as meias, e qual o prato preferido do Ronaldo.
Isto, naturalmente são coisas que qualquer português precisa conhecer antes de se recostar num sofá e, entre tremoços, cerveja e imprecações – depois de ouvido com emoção o Hino Nacional – se dedicar à tarefa ingente de ver uns tipos a chutar a bola.
Queremos ver os nossos rapazes dia e noite, como se fosse o «Big Brother», o que fazem, os mais discretos gestos, as voltas na cama, a lavagem dos dentes, o duche diário – pensam por nós os donos das televisões.
Ainda há dias dizia um repórter com visível profissionalismo: « Vamos lá a ver quem sai, para sabermos com quem vamos falar.» Isto é lindo!
Não importa a pergunta, nem o jogador – de certo modo, todos dizem o mesmo.
O que interessa é que um deles repita o desejo de vitória e, sobretudo nos fale das magnas questões que vão decidir o futuro de Portugal: se Bruno Alves parte as canelas de um estrangeiro qualquer que apareça lá pela área, qual a dieta de Miguel Veloso para ficar com o rabo mais pequeno, ou quanto custou a última tatuagem do Raul Meireles.
Bem podia o Governo ter ido um pouco mais longe, taxando, além dos reformados, desempregados e outros subsidiários, os doentes que por um motivo ou outro morram nos hospitais, acrescentando despesa inútil, uma vez que – morrer por morrer – podiam perfeitamente morrer em casa ou num lar de idosos.
É verdade que a maioria dos portugueses quando vê o Sócrates na televisão, lembra-se dos flagelos bíblicos e das maldições populares (além de algumas palavras sonantes impublicáveis) sendo que a minoria ainda consegue dar graças a Deus, por não ser reformado, desempregado ou subsidiário.
O país é desigual, a pobreza aumenta, os impostos atingem todos os bens, os nossos parceiros europeus têm-nos em conta de atrasados, mas o que é isso, comparado com a possibilidade de ganharmos – já não digo o ordenado que o Real Madrid poderá pagar ao Mourinho – mas, o Mundial de futebol?
Ou mesmo chegarmos à final e perdermos com o Peru, ou Camarões?
domingo, 23 de maio de 2010
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ResponderEliminarNo seu executivo, e no final da página encontrarmos o acesso ao Link de uma Associação:
Porquê esse link e não os outros também das respectivas forças politicas?
Saudações Marítimas
José Modesto