terça-feira, 3 de novembro de 2009

Carta aberta a Narciso

Tenho andado a pensar nos propósitos de alguns dirigentes regionais do PS - o partido que, sem ti jamais teria sido o que é – e começo a ficar preocupado.
Vim até aqui ao Minho profundo, que como sabes fica perto de Viana, e resolvi reflectir sobre a coisa. Ou seja, pensar profundamente no modelo judicial socialista, o qual, parece-me, não difere muito do modelo judicial português.
O modelo judicial português (o socialista parece-me igual) diferencia-se dos restantes – e tu sabe-lo bem! – pela originalidade no que toca aos alvos de penas e condenações.
Por exemplo (e esta devo-a a um bom amigo que estudou bem o caso, a partir da posição privilegiada no Governo): se um banqueiro delapida os fundos do banco, prejudicando os accionistas, na maioria dos modelos judiciais, vai preso. Pois em Portugal, terra de brandos costumes e de ainda mais brandos julgamentos, vai preso o gerente da agência bancária, que a seu pedido abriu conta num «off-shore»!
Outro exemplo: se um ministro despacha (e despacha-se) que se farta, pode em qualquer modelo judicial comum ser chamado a contas no Parlamento, em sede de Comissão de Inquérito, ou mesmo na Procuradoria. No nosso modelo não se incomoda o ministro; parte-se do princípio que a culpa – a haver, coisa que raramente acontece - é do contínuo que deixou acumular os despachos e do chefe de Gabinete que já faleceu, ou, já emigrou.
Esta é a lógica justiceira dos dirigentes que agora querem julgar-te.
Toda a gente sabe que não podes comparar-te a eles. És um homem de carácter, de princípios, de causas e de valores. Um socialista a sério!
Poderão, os que agora se arvoram em teus juízes, proclamar o mesmo?
Comparado com o teu, que passado têm eles, para que os acreditemos no presente, e lhes confiemos o futuro?
Toda agente sabe que a tua corrida por fora do PS se ficou a dever à firme determinação de recolocares Matosinhos na calha do progresso e desenvolvimento. Corrigir a rota, ou retomar o rumo, como tantas vezes o disseste. Porque foram eles que se desviaram, e não tu!
Tiveste a lucidez de denunciar, a tempo, o desgoverno municipal.
Tiveste a coragem de enfrentar uma máquina partidária que, desta vez, nos venceu.
Contigo estão muitos dos que nas autárquicas votaram PS.
Sobre este “engano” eleitoral, ainda um dia hei-de dedicar-te um livro!...
Lembra-te das palavras oportunas e certeiras do Presidente da República na tomada de posse do novo Governo, e que podes muito bem interiorizar:
“Se os cargos públicos são efémeros”… “o carácter dos homens é duradouro…”, pelo que “não são os cargos que definem a nossa personalidade, mas aquilo que somos em tudo aquilo que fazemos…”.
E se pensas que, depois de tanto esforço, o reconhecimento não existiu, pensa na resposta daquela criança à ministra Lurdes Rodrigues, depois das obras e dos “Magalhães” (Público 15/10/2009):
“E o que é que gostas mais nesta escola nova?” – perguntou a ministra.
“Da professora”- respondeu o rapaz!

2 comentários:

  1. Boa tarde.
    E os presidentes de câmara enriquecidos ao fim de vários mandatos'
    Não merecem uma palavra?

    ResponderEliminar
  2. Leixão.
    O senhor se trabalhar a vida toda tem direito a uma boa reforma, certo?
    O senhor se desenvolver a sua empresa, como foi outrora desenvolvido Matosinhos, tem direito à merecida recompensa, certo?
    Lembro-me que o director geral de impostos ganhava mais que o presidente da república...
    Enfim...parece mais fácil partir para a demagogia.

    Parabéns, Heitor Ramos, pela humildade e pela abertura.

    ResponderEliminar