“Julgando o dever cumprir,
sem descer no meu critério,
digo verdades a rir
aos que me mentem a sério.”
Agora esta:
“Os meus versos que têm eles
que façam mal a alguém?
Só se fazem mal àqueles
a quem possam ficar bem.”
Claro que já conhecem estas quadras. Exactamente! São de António Aleixo.
É verdade que foram escritas há muito, mas não passam de moda.
“Quem não tem cão, caça com gato” – diz o povo.
E quem não tem talento para censurar ou satirizar em verso – e quer expor publicamente os costumes, os ridículos e os defeitos públicos – recorre à prosa, chegando, por esta via, às “Cartas Abertas”, a que alguns prestigiados leitores chamam – imagine-se - “cartas de amor”. Nem mais!
É a fórmula alternativa para a exposição de vícios e hipocrisias, a denúncia de erros, incompetências, incoerências e ludíbrios. Servem tais “cartas” para apontar o mal, a suspeita fundada, o engano e o dolo, para abanar o cidadão anestesiado e manipulado, mostrar-lhe as batotas que jogam com ele, as sandices com que o encantam e exploram, os logros a que continuamente o sujeitam. Por outras palavras: denunciar a nudez do Rei, que mil e uma habilidades e traficâncias disfarçam de vestimenta!
Parada alta, sem dúvida, já que se exige o humor na ponta dos dedos (nas teclas, para ser exacto) porque o deleite de uns pode ser a indiferença de outros e o aborrecimento dos restantes.
Censurar deleitosamente, é voo de trapezista sem rede, pois também o escriba vive embaraçado nos próprios erros, vícios e enganos. Tal como os outros reis, disfarça a sua nudez com véus de falsa isenção e meia sabedoria.
As “Cartas Abertas” – é altura de o esclarecer - não reivindicam qualquer quinhão na literatura humorística, mas acusam-lhe a paternidade e orgulham-se dela.
Usam o riso com liberalidade e diversidade: por puro gozo ou desenfado, por intenção informatória e denunciante, por escape de verrumina e quezilência.
É difícil e complicado operar neste meio. Não chegam a intenção e o engenho (se o há q.b.) para que a sátira salte, para que a “carta” excite ou incentive.
Podia até – exagerando - chamar corrupto a qualquer um, menos ao honesto.
Não poderia – ou não deveria - era promover a inocente um culpado, nem a inteligente a cavalgadura ou a modesto o pavão.
A sátira, a crítica jocosa, a ironia, seja em artigos de opinião, seja nas famigeradas “cartas” não prescinde da verdade, como alimento e essência. Exagera-a, para deleitar!
Mas, comedidamente. Porque, em pretendendo-se ridicularizar a prepotência sem o enquadramento e o tempero devidos - e sem “qualquer coisa de verdade” como, noutra quadra, nos fala o Aleixo - o benefício pode sair ao prepotente! E quem sai ridicularizado é o escriba…
Como acontece muitas vezes, aliás!
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
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Esta está boa ó Heitor. Não me digas que te chateaste com o teu amigo advogado das causas (dele) perdidas.
ResponderEliminarÉ que a prosa assenta-lhe que nem uma luva.
Aproveito esta oportunidade, para lhe desejar um Santo e Feliz Natal com todos aqueles ingredientes especiais:
ResponderEliminarSAÚDE-AMOR-PAZ
Saudações Marítimas
José Modesto