segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A licenciatura dá inteligência? Está visto que não!

Ontem mesmo, um conhecido economista, desses que temos a rodos, dizia na televisão – entre surpreso e admirado - que “um terço dos investidores na Bolsa só tem a quarta classe”. Fiquei indignado porque aquela palavra – “só” – é claramente abusiva e dá a entender que neste país, onde alguns sobrevivem e outros se governam, há gente com poucas habilitações para jogar na Bolsa. O que é redondamente falso. O ensino privado e o programa “Novas Oportunidades” tornou-nos a todos um país de doutores e engenheiros – estatuto que tem levado muita cavalgadura a singrar no sinuoso mundo da política e dos negócios obscuros.
Veja-se, por exemplo, o caso do Dr. Vara do Mogadouro - simpática vila que viu nascer um dos homens mais badalados dos últimos tempos. Foi ali, atrás de um balcão da Caixa Geral de Depósitos, que, o então Sr. Vara se iniciou no frutuoso mundo dos negócios: primeiro, negócios da lavoura e do comércio a retalho, e só mais tarde – quando licenciado - subiu aos negócios da sucata. Para tanto, frequentou o Curso de Relações Internacionais na Variante de Cooperação na Universidade Independente - o que prova que nem o Curso, nem a Universidade foram escolhidos ao acaso, mas antes mediante criteriosa escolha. De amigo de ninguém passou a amigo de um - Sócrates –, e de amigo de um passou a amigo de todos. Os ricos, claro. Se ficasse “só” com a quarta classe teria subido tanto? Talvez! Muitos portugueses, sem ela, fizeram muito mais:
• D. Afonso Henriques não tinha a quarta classe e fundou Portugal, além de ter conquistado Lisboa aos mouros;
• D. Diniz, também não a tinha e fez o Pinhal de Leiria e a Universidade de Coimbra;
• D. João I nunca frequentou qualquer escola primária e juntando-se ao Nun´ Álvares Pereira deu uma trepa aos castelhanos que ainda hoje lhes dói;
• D. Henrique fundou a Escola de Sagres sem ter escola nenhuma onde tivesse obtido o diploma da 4ª. Classe. Além disso, não consta que houvesse exames ou avaliações de professores nessa escola e nunca ninguém se escandalizou;
• O D. João II também não a tinha, nem o D. Manuel, mas talvez o que mais chocasse aquele economista fosse o facto de Luiz de Camões ter escrito “Os Lusíadas” sem quaisquer habilitações específicas;
• Os três Filipes nem falar português sabiam;
• O D. João IV nunca conseguiu conjugar o verbo “restaurar” e nunca percebeu se ele era transitivo ou intransitivo. Ou mesmo reflexo;
• O D. João VI foi para o Brasil e por causa dele ainda hoje lá se fala português com um sotaque estranho.
Podemos, pois, concluir que a relação entre a 4ª. Classe e a capacidade de realizar coisas “porreiras pá”, não é absoluta. O outro não o disse, mas podia tê-lo dito: um povo que sem a 4ª. Classe realizou tanta coisa pode fazer, pelo menos, o dobro com tantas licenciaturas e tantos licenciados…

3 comentários:

  1. Totalmente de acordo.

    O DIPLOMA.

    Caros leitores ultimamente tenho recebido na minha caixa de correio electrónico
    várias mensagens sobre a formação de alguns dos nossos representantes no hemiciclo e não só.
    Aqueles que supostamente num Domingo receberam a nota máxima da sua faculdade e que já são formados.
    Aqueles que supostamente no ano passado possuíam o 9º ano e que este ano já se encontram formados.
    Aqueles que supostamente estiveram ausente do País a tirar um MBA, regressam e nos seus curriculum(s) já aparecem como
    Doutores e formados em…
    Para mim não é novidade que, para se conseguir alguma coisa quer na vida profissional quer a nível politico o chamado Canudo
    conta, principalmente no nosso País.
    Não deveria ser só assim, acho que deveria contar também as nossas lições de vida, o nosso trabalho, as nossas ideias,
    e sobretudo a nossa experiencia laboral.

    Ultimamente os Portugueses teimam que a solução profissional e não só a pessoal também passa por uma ida á
    faculdade ou simplesmente acabar a formação.
    Acho bem que assim seja, aprofundar os nossos conhecimentos está muito além daquilo que aprendemos á uns anos atrás
    na nossa escola, liceu ou mesmo na faculdade.

    Não sendo uma terra de oportunidades, eu temo que todos os Portugueses fiquem realmente a saber mais do que
    os outros nossos parceiros na Europa.
    Amplamente conhecidos pela nossa capacidade de desenrasque, agora acrescida com a formação académica os Portugueses
    tentam provar que na realidade sabemos o que fazemos, e poderemos ser melhores.

    Certo que o ensino pode e deve ser melhor, a base de qualquer país está no ensino, nos seus estudantes nos seus universitários
    as empresas por mão própria recrutam, outros simplesmente após Erasmos deixam-se ficar e consequentemente passados uns
    anos ouvimos falar neles num país que os acolheu que lhes deu trabalho, alguns na Nasa outros na Politica desse mesmo país, outros
    participando em grandes projectos de investigação, outros dando conhecimentos a outros.

    Eu quero acreditar que os nossos representantes estudaram, aprofundaram os seus conhecimentos nas diferentes áreas e de uma
    forma altruísta e com ética, exercem a sua função o melhor que podem e devem, no entanto não podemos estar ausentes das noticias
    que pontualmente vêm a publico ou caem na nossa caixa de correio dilatando situações de corrupção e muito mais… tudo isto visando
    somente um objectivo, ter o Diploma.

    Publicado no Jornal de Matosinhos

    Saudações Marítimas
    José Modesto

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  2. Penso que o autor deste artigo olvidou um facto relevante:
    - Se a licenciatura for obtida ao fim se semana, dá!

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  3. Completamente de acordo.
    Mas falta um detalhe à sua observação, caro anónimo.
    Licenciaturas ao fim de semana e por Fax, só na "Independente".
    Nas outras, talvez seja difícil.
    A menos que se seja um quadro da Administração Pública!

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