segunda-feira, 23 de agosto de 2010

São uns morcões!

É um partido com história.
Com nomes que passaram e nomes que ficam.
Nobres e virtuosos uns, só virtuosos outros, estes superiores aos demais, porque a nobreza herda-se e a virtude adquire-se, e a virtude por si só vale o que não vale o sangue.
Quem foi mais conciliador do que Mário Soares? Quem foi mais discreto que António Macedo? Quem foi mais sagaz que Salgado Zenha? Quem foi mais ponderado que Jorge Sampaio? Quem foi mais intrépido que Almeida Santos? Quem foi mais humilhado que Ferro Rodrigues? Quem foi mais acutilado que José Sócrates? Mais interventivo que Acácio Barreiros? Mais comprometido que Veiga Simão? Mais irresponsável que Vítor Constâncio? Mais arrojado que Palma Inácio? Mais descarado que Armando Vara? Mais atrevido que Narciso Miranda? Mais galhardo que José Seguro? Mais combativo que Manuel Alegre?
Foi com estes (e muitos outros) que o partido nasceu, cresceu e se multiplicou.
Um denominador comum: todos eles se julgam (ou foram por muitos julgados) luz e glória da política portuguesa. É pois um partido servido por múltiplas ideias, pluralista, democrático e tolerante. Chama-se Partido Socialista, PS para os amigos. Mas, Socialista é que não é!
O paradoxo demonstra-se do seguinte teor: se ser-se socialista é também saber-se respeitar opiniões divergentes, lutar-se para se fazer vingar este preceito também o é. Quando uma manada decide expulsar das fileiras um punhado de militantes que pensa – e age – por cabeça própria coloca-se a seguinte questão?
Quem é menos socialista? Os que ditatorialmente expulsam, ou os que pacificamente aceitam a expulsão?
Se houve notificações, notas de culpa e outras trapalhadas justiceiras, porque não reagiram em força os visados? Então não faz parte da matriz socialista o combate à injustiça, à arbitrariedade, à exclusão?
Se havia – e havia-as comprovadamente – razões para desalinhar da linha oficial do partido, porque não justificar vivamente a posição assumida, partindo depois para o contra ataque denunciando, clara e objectivamente, as razões do descrédito da política que combatiam.
Então a Câmara “socialista” não seguia uma política de despesismo, ostentação, riqueza e intolerância, a que urgia pôr termo? Não eram estas (e muitas outras de igual sentido) as razões do apoio a uma candidatura que prometia (que prometia – atenção) “retomar o rumo” perdido?
O quê? Cessaram as causas que lhe deram efeito? Porventura saíram do poder os responsáveis políticos pelo “levantamento” daquela centena de militantes? Mudaram as coisas de tal maneira, que, o que dantes era intolerável passou depois a aceitável? O que fizeram estes candidatos…à expulsão? Ameaçados, encolheram-se. Apontados, arrependeram-se. Identificados, esconderam-se. Acusados, defenderam-se?
Bacoreja-me que nem isso! E nem sequer serve de consolo esta verdade: a virtude em grau eminente é perseguida.
Porque, lá voltamos ao início: de que lado está a virtude?
Uns e outros suinamente satisfeitos com o tamanho das suas pias?
Os do poder sim! Agora, os outros!...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Como custa governar!

"Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar.
Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica.
Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses:
Quem, de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados?
E que seria da propriedade rural sem o proprietário rural?

Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.

Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender? "

Bertolt Brecht

Como podemos ver, Bertold Brecht já nos tinha explicado, há muitos anos e como só ele sabia, a grande dificuldade que é governar. Agora foi a vez de Cavaco Silva dar o seu contributo, explicando a um miúdo, durante uma visita a uma escola, que talvez ainda mais acima da dificuldade de governar esteja a enorme dificuldade... de coordenar. Disse ele, depois de uns exemplos tirados do futebol, em que jogam só onze, por contraste com os dez milhões de portugueses, que «é preciso milhares de pessoas a coordenar, uns são Presidentes da República, outros são membros do Governo, outros são presidente de Câmara», acrescentando ainda que existe como que «uma mão invisível a fazer a coordenação».

Afinal o homem é muito bom! Acho que raramente terei ouvido uma definição tão boa de capitalismo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A descoberta de Narciso

“Porque vês tu, pois o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? Ou como dizes a teu irmão?: deixa-me tirar-te do teu olho o argueiro, quando tens no teu uma trave? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás como hás-de tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
(Mateus, VII: 3-5)

A coisa até passava despercebida. Era mais uma entrevista publicada num jornal de referência (o Público, no caso). A Associação porém atenta, resolveu alertar os sócios para o interesse dum “artigo” de Narciso no Público. E vai-se a ver e, o “artigo” anunciado era uma simples entrevista…
E porquê? Ora, porque Narciso Miranda acabava de fazer uma descoberta: “O PS tem um chefe, não um líder”. E concluía em jeito de pitonisa: “o PS corre o risco de passar dez anos na oposição”.
Exactamente o que Narciso foi quando podia ser líder: um chefe. Ainda por cima, um chefe que ignorou os avisos dos seus mais sagazes pares, insistindo cegamente na denúncia do despesismo (que o havia), dos gastos sumptuosos (que os há), da arrogância (que prevalece), da ostentação (que não abranda).
E o que fez o líder, perdão o chefe Narciso para atingir o objectivo partilhado por muitos matosinhenses? Como líder – que, na circunstância o não foi - teria fundamentadas e sensatas razões para as opções tomadas na fase terminal da campanha, para o beco sem saída em que se metia.
E se tais razões não eram claras competia-lhe - como líder - explicá-las. Não o fez!
Um chefe não precisa disso – terá pensado. Um chefe determina e manda publicar, à boa maneira militar.
Foi o que Narciso fez! Não conseguiu convencer, nem seguidores nem eleitores. O colapso eleitoral – uma verdadeira hecatombe – aí está para dissipar quaisquer dúvidas. O argumento da trapalhada das escutas a nível nacional é um argumento de mau perdedor.
Quanto ao “chefe” Sócrates, alapado no lugar de primeiro ministro, alapa-se igualmente no lugar de líder, e coordenador de toda a Comissão Permanente do PS, de modo a jamais largar o que é dele. Está visto que qualquer socialista que se atravesse no seu caminho acaba a pedir a Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe evite maus pensamentos e acções. E se o pede a Nosso Senhor é porque um encontro com ele transforma um ateu num crente: não no socialismo, mas na necessidade de não o ser, ou pelo menos de não o parecer.
Mas se virmos as coisas pelo lado positivo, a acumulação tem ainda a vantagem da poupança. Em vez de pagarmos um primeiro ministro e um líder do PS, pagamos um só. Podemos convidar os dois pelo preço de um almoço. Nesse sentido, creio que poderia ainda acumular mais: dava um excelente Procurador Geral da República, um excelente Presidente do Supremo, e ainda do Tribunal Constitucional, tudo concentrado.
Ocorre-me também que dava – em acumulação já se vê – um magnífico líder do PSD e, nem sei mesmo se um óptimo seleccionador nacional, pois tal como o Queirós também ele, há pouco tempo, via tudo cor de rosa.
Além do mais, se acumulasse também o PSD, não havia problemas com necessários acordos de regime.
Porque, mal os deixamos – pum! – um escândalo; se abrandamos a vigilância – pau! – uma conspiração; se não os enquadramos devidamente – pás! – uma intervenção do Estado onde não deve; e em casos de laxismo – zás! – uma revolução ou, até, o que é pior, uma nacionalização.
Será que Narciso alguma vez pensou nisto?

domingo, 6 de junho de 2010

Matosinhos, desleixo e lixo!

A praia de Matosinhos, aquela que corre ali ao fundo da Circunvalação, tem garrafas, embalagens, plásticos e lixo sortido a substituir os velhos e riscados toldos: aquele toldo construído sobre duas estacas enterradas na areia e a elas preso por cordas que lhe permitem a inclinação desejada à altura do Sol e que nos protegia do astro-rei, portador de mais doenças de pele do que uma semana num bairro pobre de Kinshasa.
O toldo de lista azul e branca, de lista verde e branca, de lista vermelha e branca, de lista amarela e branca foi desalojado.
Em seu lugar, naquele extenso areal que a Natureza nos oferece, o lixo e o desleixo assentam arraiais.
Ali, meus senhores, as barracas da praia morreram.
Aquelas alinhadas em três ou quatro filas, a cerca de quinze metros do limite da maré-cheia, listradas em cores precisas e alugadas ao dia, à semana, ao mês ou à época deram os seus lugares aos despojos que o mar rejeita, e os responsáveis pelos serviços de limpeza ignoram.
E com as barracas foi-se o colorido da paisagem e as férias na praia para muitas famílias. Dantes, família que se prezasse – muito antes do povo acorrer às praias – tinha aluguer de barraca e toldo pelas semanas em que se espraiava.
Nem todas as barracas se foram, vá lá! Alguns bares construídos sob “projecto” importado dos bairros de lata lá continuam austeros e – será pudor? – encerrados a horas de praia. Eles lá sabem porquê…
Bem sei que o Senhor Presidente da República sugeriu há dias que os portugueses “ajustassem os seus planos de férias” para o Algarve.
Mas, não é a mesma coisa!
Por lá, no que toca a barracas ou toldos, só se vêem aquelas palhotas, tipo chapéu de palha entrelaçado que vagamente rememora as latitudes selvagens do Caribe ou de uma África em vias de desenvolvimento.
Mas, esta mudança – permitir que se tenha transformado em lixeira uma praia que tinha condições naturais para brilhar – reflecte com inteira nitidez o conceito de progresso adoptado pelos detentores do poder cá na terra.
Eis a prometida “mudança”: tínhamos praia; já não temos!
Outras “revoluções” poderão seguir-se. Feitas pelos pequenos “revolucionários” que nos calharam em sorte.
Porque, se uma revolução é uma grande mudança, um adepto da mudança será forçosamente um pequeno revolucionário!
Por agora, no alinhamento, está a passividade do principal responsável autárquico face à ameaça das inaceitáveis portagens.
Contestá-las?
- Isso é que era bom! Podia dar para não repetir a corrida ao tacho!

domingo, 23 de maio de 2010

Crises tivemos muitas. Campeonatos do Mundo nem um!

É verdade.
A selecção é a nossa esperança, a nossa vida, a nossa possível glória. Imaginem só se vivêssemos num país onde o mais interessante fosse o tango dançado por Sócrates e Passos de Coelho. Ou mesmo a decisão do Presidente da República sobre o casamento homossexual!
As televisões têm sido de grande ajuda. Já conseguimos saber quais são os gostos do Nani, onde o Coentrão compra as meias, e qual o prato preferido do Ronaldo.
Isto, naturalmente são coisas que qualquer português precisa conhecer antes de se recostar num sofá e, entre tremoços, cerveja e imprecações – depois de ouvido com emoção o Hino Nacional – se dedicar à tarefa ingente de ver uns tipos a chutar a bola.
Queremos ver os nossos rapazes dia e noite, como se fosse o «Big Brother», o que fazem, os mais discretos gestos, as voltas na cama, a lavagem dos dentes, o duche diário – pensam por nós os donos das televisões.
Ainda há dias dizia um repórter com visível profissionalismo: « Vamos lá a ver quem sai, para sabermos com quem vamos falar.» Isto é lindo!
Não importa a pergunta, nem o jogador – de certo modo, todos dizem o mesmo.
O que interessa é que um deles repita o desejo de vitória e, sobretudo nos fale das magnas questões que vão decidir o futuro de Portugal: se Bruno Alves parte as canelas de um estrangeiro qualquer que apareça lá pela área, qual a dieta de Miguel Veloso para ficar com o rabo mais pequeno, ou quanto custou a última tatuagem do Raul Meireles.
Bem podia o Governo ter ido um pouco mais longe, taxando, além dos reformados, desempregados e outros subsidiários, os doentes que por um motivo ou outro morram nos hospitais, acrescentando despesa inútil, uma vez que – morrer por morrer – podiam perfeitamente morrer em casa ou num lar de idosos.
É verdade que a maioria dos portugueses quando vê o Sócrates na televisão, lembra-se dos flagelos bíblicos e das maldições populares (além de algumas palavras sonantes impublicáveis) sendo que a minoria ainda consegue dar graças a Deus, por não ser reformado, desempregado ou subsidiário.
O país é desigual, a pobreza aumenta, os impostos atingem todos os bens, os nossos parceiros europeus têm-nos em conta de atrasados, mas o que é isso, comparado com a possibilidade de ganharmos – já não digo o ordenado que o Real Madrid poderá pagar ao Mourinho – mas, o Mundial de futebol?
Ou mesmo chegarmos à final e perdermos com o Peru, ou Camarões?

domingo, 25 de abril de 2010

O que vê o senhor presidente

Eu, assim coisas importantes que gostava de ter visto, era o senhor presidente da Câmara de Matosinhos a lutar contra as portagens que os seus amigos do Governo nos vão impingir. E também gostava de ter visto o que viu o árbitro que, em Setúbal viu o que fez o colombiano Falcão para ser amarelado. E gostava de ter visto, porque eu sou assim: gosto de ver tudo e estes momentos falharam-me.
O senhor presidente vê razões para que a ameaça das portagens se concretize. O senhor árbitro, viu razões para impedir o avançado do F C Porto de defrontar o Benfica. Não quero com isto insinuar que o senhor presidente, ou o senhor árbitro vejam mal as coisas. Isso seria injusto. A História, a grande História, está cheia de momentos em que apenas poucos viram o que todos deviam ver. A esses poucos costumamos chamar visionários.
Ora estes senhores podem muito bem ser visionários. Não viram a sarça ardente que viu Moisés, nem a ressurreição de Cristo de que Tomé duvidava, nem o sinal da cruz que viu Constantino, ou as cinco chagas que iluminaram Afonso Henriques. Mas, o senhor presidente viu que os senhores do governo têm razão para portajar vias sem alternativas. Não digo que as razões não existam – se o senhor presidente as vê é porque existem. Bom era que sua excelência demonstrasse aos incréus (com eu) e aos descrentes (como nós) a justeza desta medida.
Outra coisa que gostava de ver, mas não consigo, é a enorme diferença de políticas entre o PS – que em Matosinhos ganhou as últimas autárquicas – e a do PSD – que em Matosinhos ganhou já no prolongamento, perdão na coligação. É seguramente abissal, tanto mais que partidários de um e outro berram consistentemente as suas razões no Parlamento. Mas, do mesmo modo que os daltónicos não vêem as cores que estão à vista de tantos outros, assim não vejo eu o que o PS fez que o PSD não teria feito neste caso das portagens. Creio bem que os dois podiam era coligar-se naquilo que realmente sabem: Obras!
Bem sei que quando estão na oposição tanto o PS como o PSD são contra as obras (é por isso que os não distingo), mas como estão sempre a favor quando estão no Governo (e por isso não os distingo) podiam antes andar juntos no Governo e na oposição.
Era mais fixe!

domingo, 11 de abril de 2010

Advogados assim “Belos”? Não, não há!

É suave sentimento o recordar os mortos. Não desameis o amigo dos túmulos, que esse há-de ser sempre o menor tropeço que vos embarace os prazeres da vida.
Agora direi como veio a ponto este eco das sagradas escrituras.
No último número do MH, ao lado do anúncio da “Cerimónia de Homenagem Aníbal Belo” um brilhante texto assinado por Joaquim Queirós, terminava com uma pergunta: “como seria a humanidade se houvesse por aí mais belos como este Aníbal foi?”
Tive a felicidade de ter nascido no mesmo lugar que ele: Subportela, aldeia do Minho próxima de Viana. E de com ele ter convivido. Era o amigo mais velho e mais instruído que apontava aos amigos os ideais da justiça e liberdade. Utopia! – confessava-me mais tarde. Conheci-o muito antes de – como ele gostava de dizer - se ter aburguesado… e ter vindo para Matosinhos.
Já não há advogados assim. Talvez, o meu amigo Carlos Oliveira – o único jurista que conheço dotado de equivalente riqueza interior. Porque digo isto?
Um cliente abastado, procurava-o e propunha-lhe os seus direitos à propriedade de outrem, que a possuía também com os seus direitos. O jurisconsulto cotejava as razões de ambos, e dizia ao seu cliente que era injusto de sua parte o litígio. Replicava o cliente que as suas razões não eram, bem o sabia ele consulente, inteiramente infalíveis; porém, confiado no talento do seu insigne patrono, esperava vencer a causa, e prometia ser na paga liberalíssimo. Aníbal Belo, redarguia que não aceitava procuração para patrocinar um roubo. O consulente saía, não voltava, e aconselhava os seus amigos a evitá-lo.
Outro cliente, uma dama de ilustre nascimento, procurava o jovem jurista para o encarregar de levar pelos cabelos ao tribunal e à cadeia uma sua empregada que vivia senhorilmente a expensas de seu marido. O advogado, com delicadeza e urbanidade, lembrava à ciosa senhora que o nome de seu marido seria enxovalhado nos tribunais. A dama dizia que não viera pedir conselhos e saía para divulgar que o famigerado letrado indultava a libertinagem dos maridos.
Aparecia depois a empregada, pedindo ao advogado que a defendesse da acusação da dama. Alegava em seu favor as razões que Aníbal adivinhara. Este aconselhava-a a que procurasse ser honesta e laboriosa noutro lugar. A empregada saía dizendo que o doutor Belo só defendia criminosos ricos.
Aburguesou-se depois – gracejava ele. Eu diria que o projecto inicial da natureza foi desvirtuado.

domingo, 28 de março de 2010

Anos depois, num cemitério...

Não cuidem, enganados por este título fúnebre que fui localizar entre ossadas a inspiração ou a aproximação aos que, não buscando a morte com arma e veneno, a ela se referem como se fossem capazes de sorrir-lhe quando os vier buscar...
A redenção do género humano tão íntima aliança tem com a morte, que o divino filósofo, Jesus de Nazaré, filho de Deus, morreu para resgatar, depois de ter apostolado para convencer.
No cemitério, ninguém mente a ninguém. Aqui, a religião, refúgio dos pecadores; o silêncio, refúgio de tristes. No cemitério estão as pompas do eterno nada, adornado de mármore e de ciprestes. É aqui que tudo acaba, tudo, quero dizer, que vive da luz do sol e do ar do céu. Sei de cor os epitáfios mais pungitivos do cemitério da minha aldeia. Alguns com tamanhos erros de sintaxe que seriam estímulo a riso, se não ocorresse logo a ideia que toda a dor, bem ou mal exprimida, é sacratíssima sempre.
Lá está a sepultura de um dos meus amigos, com um epitáfio que termina assim:
“…Não perguntes quem foi, não chores, passa.”
É uma sepultura que visito há alguns anos, a dum amigo que o foi também de Matosinhos, o doutor Belo.
As cinzas de algumas sei eu que já foram formosas, graças, talento, paixões, virtudes e exemplos. Exemplos, digo bem.
A história dos grandes homens deve principiar a ser escrita à luz do seu túmulo. Lembro-me de que me dizia isto, quando indo a meio da minha mocidade, lhe dei a ler um poema que pretendia gravar na campa da minha avó. Maus versos, mas sentidos.
Triste berço embalou a minha poesia – um túmulo! Como não havia de sair ela enfezada e para pouca vida!
Mais tarde dizia-me que, se um dia, eu decidisse escrever a sério, os proprietários das gazetas haviam de recomendar-me menos política e mais idealidades, menos análises dos homens e mais ponderação de princípios. Tinhas razão, meu bom amigo.
Agora estou condenado a jejum nas minhas crónicas – até 2000 caracteres.
E abstinência – só de 15 em 15 dias!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vá lá a gente entender isto…

O estudo é recente e diz que “cerca de 63% dos portugueses toleram a corrupção…desde que produza efeitos benéficos para a população em geral”.
E que a maioria está convencida de que o primeiro-ministro mentiu no Parlamento, quando disse desconhecer o negócio da TVI. Desses, grande parte diz mesmo que essa mentira é injustificável. Mas, esta convicção não tem como resultado um corte radical com Sócrates. É que se as eleições fossem hoje, o PS reforçaria a sua votação. O que levará o eleitorado a reagir desta forma? A ausência de alternativas credíveis justificará a atitude? Existe ou não, entre nós a corrupção? Talvez, mas nada de violento - reconheça-se.
Modesta, envergonhada, pequena, inexpressiva, quando comparada com a corrupção a sério, pura e dura.
Haverá uma cunha aqui, um empenho acolá, um favor mais à frente, um cuidado especial mais ao lado - e não se passa disso.
Nada daquilo que se dizia do patrão do Chelsea, Abramovich, que terá feito fortuna à custa de negócios políticos, e das influências de velhos oligarcas próximos do Kremlin. Como me “esclarecia” um velho amigo:
- Corrupção? Corrupção? Isso é na Rússia, onde o Abramovich enriqueceu apoiado no Kremlin com os favores de uns políticos, pagando a outros e sacando recursos naturais à má- fila. Isso em Portugal não existe.
E – acrescentava, prudente e avisado – por cá, quem fez fortuna por meios ilícitos, já tem os meios suficientes para demonstrar que os meios foram lícitos. Praticamente, todos os dias somos confrontados com opiniões, notícias e comentários sobre a corrupção em Portugal.
É inegável que Sócrates, apesar de tudo, continua em grande nas sondagens. Os seus apoiantes não se cansam de elogiá-lo. Podiam era demonstrá-lo de modo mais caloroso e entusiasta. Digo isto, na presunção de que sofram também de alguma falta de liturgia, responsável por eventuais insuficiências aclamatórias. E avanço alguns procedimentos que, por certo, muito agradariam ao chefe e seus acólitos.
Assim, sempre que Sócrates chegasse a uma reunião, a um comício, a um congresso ou coisa parecida, os seus seguidores podiam deitar-se no chão, de barriga para baixo, oferecendo o respectivo lombo para que o chefe lhes pusesse os pés em cima. E quando o “chefe” se sentasse, poderiam soerguer-se devagarinho, ocupar os seus lugares sem qualquer ruído e, em silêncio, permanecer na sala até que ele decidisse usar da palavra.
Depois, de cinco em cinco frases, os presentes murmurariam «muito bem» e sempre que ele decidisse utilizar aquele tom levemente autoritário esticando o dedo, as pessoas gritariam «Viva a Pátria! Viva Portugal! Viva o glorioso engenheiro Sócrates»!
E logo que o discurso chegasse a um clímax, os ouvintes poderiam desfazer-se em aplausos de alguns minutos. No fim, quatro fiéis, previamente escolhidos, desmaiariam, enquanto seis, também pré-determinados, se fariam transportar em ombros.
Há alternativas? Mas quais?
As daquele partido que tem como candidato a líder interno um que diz ser “candidato a primeiro-ministro” – candidatura que, como se sabe, nem sequer existe? Azar o nosso, como diz o nosso primeiro.
Com tanto azar junto, se para empregar tantos artistas comprássemos um circo, até o anão crescia!…

segunda-feira, 1 de março de 2010

Chamou-lhe um Figo...

Estávamos em Agosto de 2009, a um escasso mês das eleições, portanto.
Atenta, veneradora e obrigada, a Ongoing, através do seu jornal, o Diário Económico, entrevistava Luís Figo.
O propósito de, através das respostas obtidas, evidenciar o apoio do futebolista ao político era cristalino. As perguntas eram precisas e concretas.
- Faz uma avaliação positiva deste governo? – perguntava o “inocente” entrevistador.
- No seu entender era desejável que o actual governo ganhasse as eleições? – continuava.
Mas, para que não restasse qualquer dúvida, o “artista” fez uma última pergunta suprema, definitiva, de forma a obter a resposta irrevogável:
- Fica claro em quem vai votar no dia 27 de Setembro?
E Figo, recebe no peito, amortece, roda e faz golo:
- Eu vejo a energia de José Sócrates, a capacidade empreendedora, e espero que continue a ter essa capacidade, de mobilizar o País. Bem precisamos.
Por mera coincidência, seguiu-se a formulação de uma arrojada estratégia para promover o Tagus Park no Japão e Estados Unidos, o contrato com Luís Figo e o pequeno almoço com o primeiro ministro – “acontecimento” a que alguns jornais e televisões deram o encomendado realce. Factos que, entre si, nada têm a ver, naturalmente.
Vejam bem a coisa: um futebolista retirado a promover um parque tecnológico português nos States e no Japão!
Não admiraria que Cristiano Ronaldo aparecesse agora, seguindo o exemplo de Figo, a promover o TGV, ou mesmo o novo aeroporto. Que podia muito bem - caso viesse a provar-se que Alcochete é mesmo um deserto – ser o da Ota, para gáudio do ex-ministro Lino.
C. Ronaldo, com aquele sotaque madeirense, bem podia convencer-nos de que o Terminal 2 da Portela não chegava, pelo que o Terminal 3 também não tardaria muito a não chegar.
E se o 3 ainda não chegasse, far-se-ia o Terminal 4, porque a gente não sabe o que vai ser o futuro.
Ora, o futuro, claro, passa pelo ar – sobre isso não há dúvidas – e o Terminal 3 poderia também não chegar para todos aqueles que têm de utilizar um aeroporto. Porque, no dia em que for tão banal um fim-de-semana em Paris como na Póvoa, em Viana, ou em Aveiro, imagine-se a utilização que terá aquele aeroporto “internacional”.
Arrisco mesmo a hipótese de um Terminal 5 e, quem sabe, se um Terminal 6, porque seis é meia dúzia e quando é meia dúzia pode a coisa sair mais barata.
Por isso – como diz a propaganda oficial – o que é preciso é avançar, mas avançar na direcção certa. Construindo os terminais na direcção devida, em breve estaríamos na Ota.
E desta forma original, manteríamos a Portela e construiríamos a Ota.
Um viajante do futuro, cujo avião ficasse no Terminal 21, estaria já na Ota. E com a vantagem de não ter de apanhar nenhum transporte para Lisboa. Poderia ir por aqueles corredores cheios de passadeiras rolantes, escadas rolantes, elevadores e carrinhos a apitar, até sair gloriosamente, na porta ao pé da 2ª circular.
E mais: se o voo continuasse a expandir-se, em breve juntaríamos o aeroporto de Sá Carneiro ao da Portela. O passageiro que entrasse em Pedras Rubras, apanharia a passadeira, e sairia na Portela de Sacavém.
Demoraria um pouco, é certo, mas não teria o incómodo de perder a bagagem.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Já chegamos à Madeira?

Nota prévia:
É inquestionável a solidariedade devida ao povo madeirense, afectado por esta catástrofe. Que foi uma catástrofe natural já o sabemos. Só que, a não ter havido ao longo dos anos, o mau ordenamento territorial de que agora se fala, talvez pudesse ter sido evitada. Ou, no mínimo minimizada.
Erros urbanísticos, desvio do leito natural das ribeiras estarão, entre outros, na origem de tamanho colapso das estruturas. Técnicos irão pronunciar-se, inquéritos decorrerão ou não, mas, pela amostra, os verdadeiros culpados sairão ilesos do processo. De resto, o próprio chefe do governo regional deu já disso sinal seguro e certo.
Cuidado - disse ele – nada de dramatizar a situação, porque a economia da ilha depende do turismo. E o turismo - acrescenta cauteloso - pode ressentir-se com notícias e imagens da realidade. Oculte-se pois a verdade, sentencia ele.
Como se fosse possível as televisões mostrarem aquelas imagens e, ao mesmo tempo os textos desmentirem o que se mostra!...
Negar as evidências: eis, o que Alberto João sempre por lá fez; agora quer que, nesta atitude, o sigamos “desdramatizando”. Feitios!...
Dezenas perderam a vida, centenas ficaram feridas, milhares perderam os haveres. Oculte-se, para bem da economia – e quem manda é o chefe!
É justo – todos estamos de acordo - que contribuamos para amenizar a dor que se abateu sobre os nossos compatriotas insulares; e mesmo que não fossem compatriotas, o sentimento seria o mesmo: o Haiti, por exemplo, não nos é nada (em termos de parentesco, entenda-se) e sentimos igualmente a tragédia.
Acontece que a ideia que nós, os “cubanos”, temos da Madeira, por culpa do seu chefe máximo, coloca algumas reservas naturais aos impulsos da solidariedade que lhes devemos – inquestionável, repito. E porquê?
Por isto:
A principal questão que nos liga à Madeira é o facto de a Madeira não se querer desligar de nós. Se os dirigentes madeirenses fossem homens consequentes (o que ficava bem e até rimava), pediriam a independência deste rectângulo que tanto mal lhes tem feito. Infelizmente, é outro o entendimento do Dr. Jardim e de seus sequazes, que vão dizendo mal da Lusa Pátria, mas a ela andam agarrados como a lapa à rocha.
Expressões próprias do desagrado português em relação àquela ilha estão no nosso léxico como em «já chegamos à Madeira?». Não há que se saiba nada de parecido com os Açores, ou com Cabo Verde ou mesmo com Timor.
Creio mesmo que um referendo sobre a independência da Madeira ganharia largamente em todo o País, à excepção da própria Madeira que pretende ficar amarrada a esta Pátria que a explora e a trata aos pontapés.
Não podemos libertar a Madeira à força, contra a vontade deles.
Mas podemos libertar-nos a nós.
Se um dia nos chegasse a notícia de que o Jardim se demitiu, tínhamos tanto a ver com isso como com as nuvens do ano passado…

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Tempo de outrora e os tempos de hoje…

Antigamente, as estações do ano sucediam-se com a regularidade assinalada pelos astrónomos. Os dias de Primavera eram temperados, alegres, perfumados, encantadores. Os de Verão eram quentes, risonhos, brilhantes e ensolarados. Os do Outono mornos, dourados, cheirosos e deslumbrantes. Os do Inverno frios, tristes, chuvosos e cinzentos.
A gente ditosa, que então vivia, podia confiar-se nos entendidos em rotação dos planetas; e os sábios podiam sem receio responsabilizar-se pela pontualidade das estações.
A gente fiava-se dos sábios, os sábios da ciência, e a ciência dos factos repetidos. Depois, porém, daquela época, desconcertaram-se os sistemas das regiões altas. O “progresso” encarregou-se de influir na substância dos sólidos e fluídos componentes do maquinismo celeste, alterando-lhes o modo de actuarem sobre a terra.
É uma teoria universalmente aceite, sendo que hoje não falta quem seja capaz de apresentar razões científicas que justifiquem tal desconcerto planetário.
E se houvesse versões contraditórias - tão científicas quanto as primeiras - não seria lógico que, para serem publicadas, fosse exigida a apresentação de “casos concretos”. Publicavam-se e… pronto!
Donde se conclui que, a exigência de provas “concretas” para que opiniões diversificadas sobre um mesmo assunto sejam publicadas varia de acordo com o tema em apreço…
Mas, se sobre o tempo que faz, a questão das divergências não seria tempestuosa, o mesmo não se diria de algumas crónicas escritas, como, por exemplo, aquela do Mário Crespo recentemente censurada pelo “Diário de Notícias” primo do JN.
(Apresso-me a esclarecer que não aprecio a forma como um jornalista de direita aproveita todos os centímetros que consegue na imprensa e cada minuto de tempo de antena para debitar um ódio vesgo por tudo que cheire a esquerda, ainda que “esquerda”, para ele, seja este governo PS!…)
E vou mais longe: não gosto de praticamente nada do que Mário Crespo escreve, não simpatizo praticamente com nada do que diz e, não sinto entusiasmo por praticamente nada do que apresenta na Televisão -
por muito que queiram convencer-nos de que se trata de “jornalismo de excelência”.
Se cá a trago é por ser inquietante - e era aqui que queria chegar – a deriva autoritária que, um pouco por todo lado, vai eliminando crónicas “incómodas” não pelos argumentos, mas pelo puro, duro e simples silenciamento!
Porquê? Ora porque,
“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...”
(Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Crónica de recurso. Felizmente, há blogues…

Era do Mar de Matosinhos que António Nobre falava quando, no seu livro “Despedidas” escrevia:
“Saí um dia a Barra à procura de Glória, entre soluços e orações, cuja memória me faz tremer. Foi por uma tarde de Outono. Que linda: mar espreguiçava-se com sono.
Por essa Barra saem cheios de pecados bandidos com seus crimes e mais os degredados; traidores à Pátria e ao Rei, infelizes e ladrões, por lá saiu também uma noite Camões…”.


O Ar de Mar inspirava o poeta do Só, “Na Praia lá da Boa Nova…”
E os poetas “”não estivessem do meu lado, então não havia fado…”
Nem cronistas como eu!

“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada”.
(Maiakovski, poeta Russo)

“Primeiro levaram os negros.
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso.
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso.
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados.
Mas como tenho meu emprego, também não me importei.
Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”.
(Bertold Brecht (1898-1956).


”Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...”
(Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas).

Só cessarão estas e outras injustiças quando combatermos as perseguições logo que elas se iniciem.
Vejam lá se há disto em Matosinhos…

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ah, se eles pudessem!…

E são nossos irmãos, segundo a Bíblia!
Só não podem - e sabe Deus com que pena! - é “levar-nos” como dantes fazia a Pide.
O Partido Socialista, perdão, os responsáveis locais do partido socialista - um partido fundado para conquistar a liberdade de opinião, de expressão, de reunião e de intervenção - têm na perseguição, o seu objectivo primeiro.
Soluções - ou vá lá, ideias - para combater o desemprego, a fome e a insegurança instalada em Matosinhos, nem uma! E foi com esta perspectiva que conquistaram o eleitorado…
Acusações, suspensões, expulsões – vingança, para ser objectivo - eis o resultado imediato dos resultados eleitorais de Outubro.
Primeiro - ou depois, tanto faz - as pseudo “notas de culpa” aos militantes que ousaram desalinhar da rota oficial do partido.
A seguir - ou antes, tanto faz - a perseguição individual, que já nem sequer é circunscrita ao local de trabalho. Coscuvilham se quedam em casa, se saem à rua, se vão a jantares, se frequentam estádios, se…
Todos os palcos servem para humilhar, perseguir, ameaçar…
E qual foi o delito destes “criminosos”?
Eu explico.
Entenderam que tinha chegado a hora de Matosinhos mudar de rumo!
Ora, como não mudou e, como não cessou a causa que lhe dava origem – e, pelos vistos até se acentuou - as consequências aí estão.
Se está em causa a democracia?
Por enquanto talvez não: afinal, são apenas aprendizes, ou para usar uma linguagem extremista – mas certeira – meros “criados dos exploradores do povo” de nula influência no processo de regressão em curso. Mas, é assim que “eles” começam…
Razões para preocupações? Mais que muitas!
Meditem bem nisto que Bertold Brecht (1898-1956) escreveu:

"Primeiro levaram os negros.
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso.
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso.
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados.
Mas como tenho meu emprego, também não me importei.
Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém .
Ninguém se importa comigo”.

Está visto! O PS de Matosinhos precisa de uma barrela.
Para que a Justiça, o bom senso e o respeito pelas opiniões alheias – perdida que foi, desta feita, a retoma do rumo – sejam recuperados.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Despesismo também é isto!

(E não o apoio à Juventude e Desporto, que as autarquias concedem aos clubes…)

Despesismo não é só em Matosinhos, mas em todo o lado. E não só nas autarquias. Para se chegar a “despesista”, ajuda muito gerir-se o dinheiro dos outros. Como em algumas empresas públicas. É verdade que alguns gastos são mais escandalosos que outros. Automóveis topo de gama, publicações de promoção pessoal, festas sumptuosas – entre outras, evidentemente - saltam à vista de todos. Mas existe outro tipo de gastos, que escapa por completo à avaliação da opinião pública. Exemplo: a “nossa” RTP.
Há duas semanas a Justiça devolveu à liberdade o turco que em 1981 tentou matar o Papa João Paulo II. Nada de extraordinário: cumprida a pena, é natural que os prisioneiros sejam libertados. Só que este era um preso especial. De seu nome Mehmet Ali Agca, o homem que para muitos, há muito estava no Inferno, chegou afinal – por enquanto - ao Paraíso.
Não naquele Paraíso de que nos fala a Bíblia, mas outro paraíso, um paraíso ao alcance de quem tenha, para gastar, numa estadia em hotel, alguns milhares de euros. No caso, um quarto, no quarto piso dum luxuoso hotel, “com uma vista fabulosa que domina toda a cidade” – dizem as agências noticiosas. Também nisto, nada a estranhar: cada um instala-se (ou deixa que o instalem) onde pode.
De estranhar – e esta é a razão que aqui traz o assunto - apenas os critérios de concorrência e de mercado, que levam a que jornalistas de estações de todo o mundo estejam ao mesmo tempo em directo nos mesmos locais a contar as mesmas coisas, com os mesmos protagonistas, sem acrescentar absolutamente nada aos despachos das agências noticiosas com que os “pivots” dos telejornais iniciam a notícia.
E qual era o acontecimento? Pois, nem mais nem menos que a libertação do tristemente famoso turco.
Para “cobrir” um “acontecimento” destes também lá estava o repórter da nossa RTP, envergando um colete Coronel Tapioca, a repetir exactamente a introdução à notícia feita na redacção.
A RTP – está visto - com a nossa ajuda, pagará as facturas da nulidade (mais uma, afinal – também aqui nada de novo a registar) que nos foi transmitida em directo e por satélite.
Haverá nisto alguma racionalidade? Alguma explicação?
Se calhar existe.
Se alguém a conhecer e a quiser partilhar, antecipadamente este contribuinte agradece. Mas, voltando ao local: ouvidas as palavras de Ali Agca, confirmou-se o que se sabia: foi libertado um louco, cuja loucura não se curou durante os anos que passou na prisão.
Se o turco conseguir instalar uns mísseis de longo alcance lá no terraço do luxuoso hotel, vai conseguir cumprir aquilo que prometeu à imprensa: estoirar com os gajos todos…

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Padroense: a razão do sucesso no sucesso da gestão!

Há um clube da nossa terra que tem a sua alma no seio do povo. O corpo, esse, há muito que o doou à causa pública, no incansável contributo à formação desportiva, cultural e recreativa de sucessivas gerações.
É o popular clube do Padrão da Légua, o Padroense Futebol Clube.
O “Jantar de Gala” dos seus 88 anos serviu também para recordar o passado.
E o presidente Germano Pinho, num discurso emotivo e empolgante, aclamado pelo milhar e meio de pessoas presentes revelou o segredo de tamanho êxito: rigor e seriedade, numa gestão criteriosa, equilibrada e responsável.
Pois, apesar dos seus 88 anos o Padroense caminha com o vigor da juventude. E fá-lo serenamente, por entre a desordem e a confusão que reinam no nosso Futebol, como que a lembrar-nos da paz que podemos ter, se soubermos levar a cabo uma política de boas relações e cooperação.
Um clube que, sem ser subserviente, tem sabido manter-se em boas relações com todos, mesmos com os mais pequenos e desorganizados.
Para além de dedicar o mesmo carinho e empenho às diversas modalidades desportivas que criou - mesmo àquelas tidas por mais humildes e desacompanhadas - incentiva uma postura social que desvia associados, simpatizantes e atletas da desmedida ambição competitiva que poderia torná-los violentos, intolerantes e agressivos. É uma postura que reforça a fortaleza de espírito colectivo, salvaguardando os seus membros, por antecipação, num inesperado insucesso desportivo; mas, se tal acontecesse não desesperaria: por mais de uma vez, o clube baixou de escalão sem que o seu orgulho tenha saído ferido, ou a motivação desaparecido.
Compará-lo com os outros seria presunção ou melancolia, pois haverá sempre clubes superiores e inferiores ao nosso.
Integra, por mérito próprio, o conturbado mundo do desporto nacional; e ainda que isto possa não ser importante para muitos, sem dúvida que o presente é-nos disto revelador.
Usa de prudência nos investimentos e contratações, porque o seu presidente sabe que o mundo está cheio de astúcia; mas isto não o cega a ponto de não reconhecer virtude, onde ela exista.
Mira-se no exemplo dos clubes maiores, e regozija-se com as suas conquistas além fronteiras; mas, não abdica nem do programa, nem dos princípios que perfilha.
O Padroense é, pois, um dos grandes do nosso Concelho, e tal como os grandes do nosso País, tem o direito de querer vencer as provas em que participa.
Dizer-se que é um clube que vive em paz com Deus, seja qual for a ideia que dEle se tiver, não é ousadia. Nem utopia.
E por muito duras e absorventes que sejam as lutas e os desafios que tenhamos na ruidosa confusão da vida, não podemos ignorar tão elevado exemplo de gestão.
Assim pudéssemos vê-la aplicada noutros sectores da sociedade…
Siga em frente, por muitos anos, presidente Germano!
Lute, ainda mais, para fazer do nosso Padroense Campeão!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O direito à indiferença

Nada tenho contra (nem a favor) do casamento entre pessoas do mesmo sexo. É um direito igual ao daqueles que, a tal respeito, tudo têm a favor (ou contra).
É o direito à indiferença. Cada um casa com quem quer. E ninguém tem (ou não devia ter) nada com isso.
Tenho - isso sim, e muito - é que os meus impostos sirvam para ajudar a pagar aos que legislam sobre uma matéria que não é seguramente aquela que mais preocupa os portugueses. Objectar-me-ão que quem legisla (ou quem os apoia) não perde necessariamente de vista problemas sociais que a seu tempo alguém há-de resolver. Ou seja, outros políticos, já que estes - que alguns escolheram e todos sustentamos - não servem. Ou melhor, servem para isto!...
Trata-se duma causa que está longe de merecer a importância colectiva que alguns pretendem atribuir-lhe.
Ou teremos assim, entre nós, tantos homossexuais?
Ainda sou do tempo em que os gays eram, simplesmente, “paneleiros”.
Havia poucos e não tinham orgulho nisso. Hoje são muitos e estão cada vez mais activos e aguerridos. Muitos até filiados em Associações: a NET não engana. Organizam “Marchas de Orgulho Gay” e têm mesmo – calcule-se – o seu dia: o “Dia Nacional de Libertação Gay”, a 28 de Junho.
Orgulhosamente, declaram-se “assumidos”. Imiscuem-se na Política, na Televisão, no Teatro. Homens com marido? Aprove quem quiser!
Antigamente falava-se do “perigo amarelo”: hordas de chineses, comprimidos pela explosão demográfica avançariam sobre a Europa. Mais tarde falou-se do “perigo comunista” que desapareceu com a queda do Muro de Berlim.
Poderá falar-se agora do “perigo gay”?
Imagine-se milhões de “assumidos” com os mais exibicionistas - que os há, inegavelmente - avançando em esquadrões a dar ao rabo!
Seria um espectáculo aterrador, dantesco! Evitá-los? Mas, como?
Tendo obtido recentemente uma vitória estrondosa, ao verem legalizado o casamento entre eles, resta-nos aceitá-los. Naturalmente! Legalmente!
Para o bem e para o mal, como dantes se dizia dos casamentos da D. Concordata!
Li algures, que, em tempos a Argentina esboçou um projecto curioso para lidar com idêntica situação: a criação de um vasto território, onde todos os homossexuais - homens e mulheres - pudessem viver à vontade, livres de constrangimentos sociais, com os seus costumes, as suas leis, parlamento, constituição e governo próprios. Uma espécie de reserva demarcada, por assim dizer. Talvez por lá a coisa fosse viável, sendo a Argentina um grande País, com todas aquelas pampas a perder de vista.
Por cá não dava. Não só porque o País é demasiado pequeno territorialmente para criar reserva igual, como não podia prescindir, assim duma assentada, de todos os homossexuais (e lésbicas) que estão integrados na sociedade, desterrando-os para longe.
Graves problemas abalariam o mundo da política, da cultura, do divertimento e do lazer!
Assim como assim é melhor apoiá-los!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Falta a taxa da respiração

De acordo com notícias vindas a público, Sócrates terá dado ordens a Lacão para escrever aos partidos da oposição, mais exactamente, PPD, CDS, BE e PCP, para “negociar” com vista à aprovação do Orçamento de Estado.
Já antes, na sequência dos resultados eleitorais, Sua Excelência o Presidente do Concelho tinha proposto algumas coligações que viabilizassem o governo - propostas iguais, apresentadas exactamente aos mesmos partidos. E ao mesmo tempo!...
E embora os homens que elaboraram o Orçamento não tenham arrancado o coração a nenhuma criança, nem chupado o sangue de nenhum inocente, nem sequer mandado degolar todos os primogénitos, a maioria das pessoas quando vê o Sócrates ou o Teixeira dos Santos lembra-se dos flagelos bíblicos e das maldições populares (além de algumas palavras sonantes impublicáveis) sendo que a maioria consegue dar ainda graças a Deus por não ter qualquer deficiência.
É verdade que se pode ir sempre mais longe em matéria de taxas, taxando-se além dos internamentos, as pessoas que por um motivo ou outro morram nos hospitais, acrescentando despesas inúteis, uma vez que – morrer por morrer – se pode perfeitamente morrer em casa. Ou, vá lá, num lar de idosos.
Lá no conforto climatizado e asséptico dos gabinetes ministeriais, a dúvida deve angustiá-los. Quem taxaremos? O que taxaremos? Como taxaremos? Dúvida que – há por ai quem diga - nem deve deixá-los em paz.
Para ajudá-los, tenho uma ideia, que posso ceder-lhes a título quase gracioso: a taxa sobre respiração. Já sei que não é a primeira vez que alguém se lembra disto, mas agora vem a propósito. E é ecologista, uma vez que do ar (oxigénio e azoto) que inspiramos, expiramos uma coisa irrespirável que é o CO2 ou dióxido de carbono, ou lá o que é. Por isso, a transformação de ar puro em CO2 deve ser taxada. É o princípio do utilizador – pagador à semelhança daquele que de quando em vez se fala em aplicar nas Scutes.
Igual para todos é que não. Justo como é, o Governo que nos coube em sorte eleitoral lançaria diversas taxas. Ou taxas de diverso valor, para ser mais exacto.
Uma taxa normal, para pessoas normais, uma taxa agravada para asmáticos e uma sobretaxa de soluços, que é uma forma egoísta e privilegiada de inspirar mais ar do que aquele que é necessário.
Poderia ainda pensar-se em pequenos impostos de suspiro e aerofagia, mas isso complicaria o sistema, já que seria necessário criarem-se mais uns tantos fiscais para que pudesse realizar-se uma eficaz colecta.
Assim, às taxas dos que cumprissem, o Governo acrescentaria as multas dos que não cumprissem. Desta é que talvez nem eles se tenham lembrado!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A licenciatura dá inteligência? Está visto que não!

Ontem mesmo, um conhecido economista, desses que temos a rodos, dizia na televisão – entre surpreso e admirado - que “um terço dos investidores na Bolsa só tem a quarta classe”. Fiquei indignado porque aquela palavra – “só” – é claramente abusiva e dá a entender que neste país, onde alguns sobrevivem e outros se governam, há gente com poucas habilitações para jogar na Bolsa. O que é redondamente falso. O ensino privado e o programa “Novas Oportunidades” tornou-nos a todos um país de doutores e engenheiros – estatuto que tem levado muita cavalgadura a singrar no sinuoso mundo da política e dos negócios obscuros.
Veja-se, por exemplo, o caso do Dr. Vara do Mogadouro - simpática vila que viu nascer um dos homens mais badalados dos últimos tempos. Foi ali, atrás de um balcão da Caixa Geral de Depósitos, que, o então Sr. Vara se iniciou no frutuoso mundo dos negócios: primeiro, negócios da lavoura e do comércio a retalho, e só mais tarde – quando licenciado - subiu aos negócios da sucata. Para tanto, frequentou o Curso de Relações Internacionais na Variante de Cooperação na Universidade Independente - o que prova que nem o Curso, nem a Universidade foram escolhidos ao acaso, mas antes mediante criteriosa escolha. De amigo de ninguém passou a amigo de um - Sócrates –, e de amigo de um passou a amigo de todos. Os ricos, claro. Se ficasse “só” com a quarta classe teria subido tanto? Talvez! Muitos portugueses, sem ela, fizeram muito mais:
• D. Afonso Henriques não tinha a quarta classe e fundou Portugal, além de ter conquistado Lisboa aos mouros;
• D. Diniz, também não a tinha e fez o Pinhal de Leiria e a Universidade de Coimbra;
• D. João I nunca frequentou qualquer escola primária e juntando-se ao Nun´ Álvares Pereira deu uma trepa aos castelhanos que ainda hoje lhes dói;
• D. Henrique fundou a Escola de Sagres sem ter escola nenhuma onde tivesse obtido o diploma da 4ª. Classe. Além disso, não consta que houvesse exames ou avaliações de professores nessa escola e nunca ninguém se escandalizou;
• O D. João II também não a tinha, nem o D. Manuel, mas talvez o que mais chocasse aquele economista fosse o facto de Luiz de Camões ter escrito “Os Lusíadas” sem quaisquer habilitações específicas;
• Os três Filipes nem falar português sabiam;
• O D. João IV nunca conseguiu conjugar o verbo “restaurar” e nunca percebeu se ele era transitivo ou intransitivo. Ou mesmo reflexo;
• O D. João VI foi para o Brasil e por causa dele ainda hoje lá se fala português com um sotaque estranho.
Podemos, pois, concluir que a relação entre a 4ª. Classe e a capacidade de realizar coisas “porreiras pá”, não é absoluta. O outro não o disse, mas podia tê-lo dito: um povo que sem a 4ª. Classe realizou tanta coisa pode fazer, pelo menos, o dobro com tantas licenciaturas e tantos licenciados…